sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Rascunhos do Ócio



Antes de qualquer publicação, talvez seja necessário explicar o endereço escolhido para o blog.
Ao se deparar com a palavra “rascunho”, logo vem à mente um texto inacabado, algo que ainda necessite de algum esmero, ou aperfeiçoamento; um esboço antes de ser passado a limpo.
Já o termo “ócio”, que significa descanso, folga do trabalho, é o verbete que mais nos interessa para o momento. Explico:
A concepção de “Rascunhos do ócio” surgiu a partir da obra “O Mito de Sísifo” do escritor franco-argelino Albert Camus, que trata, entre outros temas, principalmente do absurdo da vida do homem.
O mito grego originalmente nos traz Sísifo como uma figura que, por afrontar os deuses, fora condenada por toda a eternidade a rolar um rochedo montanha acima; mas todas as vezes que parecia seu trabalho ter findado, Sísifo via o pesado fardo despencar montanha abaixo e se punha obrigado a descer e empurrar o rochedo da base até o topo novamente.
Camus, no entanto, vai muito além do mito – o autor trabalha temas que em momento oportuno terão atenção especial aqui –, mas o que importa agora é o momento da descida de Sísifo, ou, nas palavras de Camus: “É durante esse retorno, essa pausa, que Sísifo me interessa.”
Ocasião esta que, segundo Camus, é de suma importância para a tomada de consciência de sua condição, “Essa hora que é como uma respiração [...] essa hora é aquela da consciência”.
Discorre ainda o autor: “Se esse mito é trágico, é que seu herói é consciente. [...] O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas e esse destino não é menos absurdo. Mas ele só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo [...] conhece toda a extensão de sua condição miserável: é nela que pensa enquanto desce”. Camus ainda diz: “No entanto, só existe um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis”. Dessa forma, “é preciso imaginar Sísifo feliz”, pois ele é um ser consciente e “seu destino lhe pertence. Seu rochedo é sua questão”.
O “ócio” aqui, portanto, deverá ser entendido como o tempo em que Sísifo se encontra descendo a montanha, enquanto “descansa” de seu árduo e perpétuo trabalho; momento este que deverá ser percebido como uma pausa para reflexão, oportunidade de compreender nossa própria condição humana, de Sísifos que somos.
Os rascunhos do ócio, então, podem ser entendidos como anotações feitas durante essa descida.

Marcelo W. Barros

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